*****
Se o meu avô ainda cá estivesse faria hoje oitenta e um anos. E seriam oitenta e um anos de uma vida preenchida de afectos e amor. E eu poderia oferecer-lhe uma camisa, ou um lenço de bolso, ou um simples ramo de flores apanhadas à revelia nos canteiros lá de casa, ou mesmo um simples desenho borratado a aguarela em que exprimia todo o amor que por ele sinto. Infelizmente, já não lhe posso dar nada disso. Posso, apenas, refugiar-me na saudade e na doce recordação dos momentos que passámos juntos. Resta-me a certeza de que fui uma neta muito feliz e de que o meu avô foi um avô muito feliz. Tanto aprendi com ele. Quem me dera ter metade da bondade e generosidade do meu avô. Quem me dera ter a sua capacidade de simplificar, de fazer da vida algo maravilhoso e viver como se cada dia fosse o último. O meu avô viveu cada dia como se fosse o último. Não deixou nada por fazer. Foi feliz. Foi imensamente feliz. Tenho a certeza. E fez-nos tão felizes. Quando me sinto triste e com vontade de desistir de tudo, lembro-me do olhar azul [o olhar azul mais bonito que eu já vi] e do sorriso franco do meu avô e quase que lhe adivinho as palavras "Não tenhas medo Ninita, tu és capaz!". Se o meu avô ainda cá estivesse faria hoje oitenta e um anos. Todos os dias lhe sinto a falta. Todos os dias sou grata por ter tido o privilégio de ser sua neta.