Devaneios Sem Sentido | 2

Quando nos habituamos a viver de coração fechado ao amor, torna-se muito difícil voltar a abrir a porta. É um esforço hercúleo. Gera ansiedade. Tira o sono. Dá medo, tanto medo. Quando nos habituamos a ter, tão só e apenas, a nossa presença, é-nos particularmente estranho que outro alguém queira estar, que outro alguém se importe. É uma estranheza que se agiganta e que amedronta a cada dia que passa. Quando fazemos uma promessa firme de não voltar a confiar e a amar [pois sabemos o quanto custou reconstruir um coração em pedaços], pensar sequer na possibilidade de quebrar essa promessa soa a auto-traição.

A verdade é que, nos últimos anos, me habituei a esta solidão voluntária. E sentia-me bem. E sinto-me bem. Não sei se quero arriscar e saltar o muro para o lado de lá. Não sei se estou preparada para isso. Não sei se quero pôr-me em causa. Talvez ainda não tenha cicatrizado as feridas antigas. Talvez elas estejam apenas secas por fora, mas em carne viva por dentro. Talvez precise de mais tempo para fazer a catarse, para limpar tudo a fundo. Ou talvez deva virar a página de vez e recomeçar como se nada tivesse acontecido. Talvez. Não sei.