18 maio, 2016

Leituras | Anna Karénina


Anna Karénina é um retrato ímpar, na sua riqueza e densidade, da sociedade russa de finais do século XIX, que abrange diferentes estratos da população, atividades sociais, tendências ideológicas, polémicas económicas, sociais e políticas, e que encerra uma crítica acutilante à nova aristocracia russa da época. Os dramas familiares, com os seus problemas morais, a sua busca de um ideal para a vida em matrimónio, surgem em franca ligação com o panorama geral da vida, o sistema de valores, os hábitos, os conceitos éticos e religiosos. Mas é também uma das maiores histórias de amor da literatura universal, e uma das mais trágicas, protagonizada por Anna Karénina, a bela mulher de um aristocrata muito rico e o Conde Vrônsky, um galante oficial do exército. Com Anna Karénina, Lev Tolstói elevou à perfeição o romance de realismo social e criou uma das heroínas mais amadas da literatura de todos os tempos. 

Hoje trago-vos um clássico. O famosíssimo Anna Karénina, esse diamante da literatura, essa grande desilusão para mim. Pois é, podem apedrejar-me, chamar-me louca e tudo o que quiserem, mas o certo é que eu não gostei deste livro. Tinha umas expectativas altíssimas em relação a este clássico, andei a namorá-lo durante muito tempo e decidi-me, finalmente, a despender quase trinta euros para o ter. Achava eu que iria ser o momento alto da minha vida literária, que iria ficar deslumbrada com tamanha magnificência. Afinal, este é considerado um dos melhores livros de todos os tempos, não fosse o seu autor o grande Tolstoi. No início até comecei a gostar, não só da história, mas também das questões que me faziam reflectir. Mas depois, mais ou menos a meio, comecei a ficar saturada, cansada e nada cativada.

Primeiro, o romance entre Anna e Vronski não está aprofundado. Tratando-se de um amor proibido, de uma paixão assolapada, pensei que estivesse contado e descrito de uma forma muito mais profunda, com mais emoção. Mas não, é sem sabor, falta quase tudo. Claro que compreendo que, na altura em que o livro foi escrito, não se poderia escrever de forma tão livre e explícita como hoje em dia mas, mesmo assim, acho que o sentimento poderia ser mais explorado. Em segundo lugar, não consegui perceber porque fizeram da personagem de Anna uma heroína. Sempre pensei que se tratasse, de facto, de uma mulher guerreira, que iria lutar pelo amor e pela liberdade, uma mulher com personalidade e com um coração justo. Foi uma autêntica desilusão. Na minha modesta opinião, Anna Karénina não só tem muito pouco de guerreira, como é até uma pessoa um tanto fútil, egoísta, com requintes de malvadez até (no final, suicida-se, mais para se vingar de Vronski do que para pôr termo ao seu sofrimento). Mas nem tudo são coisas más. Apesar de não ter gostado da história central, achei uma certa piada à história secundária, de Kitty e de Lióvin, apesar de este exemplar masculino ser também um tanto bipolar e enervante até. Contudo, não chega para que o balanço seja positivo. Então as últimas cem páginas foram um suplício de ler.

Esta é a prova de que nem sempre aquilo que é tido como magnífico pela maioria, pode não o ser para alguns. Eu incluo-me nesse pequeno grupo que não gostou desta grande obra. Sim, porque é, de facto, uma grande obra, que todos os amantes de leitura deveriam ler. Está muito bem escrita, tem questões pertinentes (apesar de um pouco fora do contexto, uma vez que os tempos são outros) e uma abordagem filosófica transversal. Mesmo não tendo gostado, aconselho este livro. No entanto, não criem demasiadas expectativas pois pode acontecer-vos o mesmo que a mim.

(Nota: Sinceramente, até me sinto mal por não ter gostado. Mas tenho de ser sincera nas minhas opiniões.)

3 comentários:

  1. Adoro a história. Já vi o filme e uma parte de uma mini série. Tenho de ler o livro :)

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  2. Louca! Ahah, estou a brincar. Eu adorei o livro mas percebo o que descreves. Ajudou ter sentido empatia pela protagonista e pela situação em que se encontrava. Agora, o Vronski é provavelmente o personagem literário que mais detesto. É o típico gajo que não pensa nas consequências dos atos, que se guia primariamente pela atração física e que não descansa enquanto não tem o que quer, sem pensar no que pode acontecer depois. Não achei que ele a amasse, de todo. E achei que a conduta posterior dela - os ciúmes, em particular - resultou da perceção disso mesmo, e de ter abdicado de tudo, incluindo o filho, por alguém assim. Para mim, a verdadeira história de amor do livro é a da Kitty e do Levin (engraçado como os nomes aparecem diferentes dependendo das traduções, eu li em inglês). E tem também umas reflexões interessantes sobre a condição humana.

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