25 janeiro, 2017

Coração Aberto [em jeito de desabafo]



Muitas pessoas têm a ideia de que, quando nos tornamos mais calmos e seguidores de uma filosofia zen, conseguimos superar todas as adversidades sem sentir dor ou chorar, ficamos imunes às agressões e às mágoas. Não é verdade. Continuamos a ser humanos [metade humanos, metade divinos, como gosto de dizer]. Continuamos a ter um coração que se fragiliza perante as mágoas e a dor. A diferença é a forma como lidamos com tudo isso.

Ao longo de toda a nossa caminhada, haverá sempre pessoas que nos vão magoar deliberadamente. Vão subjugar-nos. Vão julgar-nos. Vão criticar-nos. Vão fazer de tudo e mais alguma coisa para nos desfazer. Quando isso acontece, quem dá o alerta é o nosso ego. É a função dele proteger-nos, defender-nos. O problema é que o ego exagera, quer assumir o controlo, quer fazer-nos súbditos da sua vontade. Quando alguém nos magoa, o ego reage. E, infelizmente, em vez de nos apoiar, ainda nos deixa piores. Porque o ego também é ingénuo e acredita no que os outros dizem. Assim sendo, quando nos julgam e criticam, o ego assume isso como uma verdade absoluta e então faz-nos acreditar piamente que não valemos mesmo nada, que somos merecedores de todo o sofrimento, que não somos capazes de coisa alguma. O segredo está em dominar este ego.

Quando nos descobrimos e assumimos o nosso eu interior e verdadeiro, o ego vai perdendo a força e o domínio e passa a ocupar o lugar dele: o lugar de uma ferramenta altamente útil e indispensável, porém completamente dominada por nós. Desta forma, quando somos magoados, não será o ego a levar a melhor, mas sim a nossa alma, o nosso ser. E esse ser divino que há em nós não nos vai julgar, nem culpar. Esse ser divino que há em nós vai apoiar-nos, vai pegar-nos ao colo, vai permitir que sintamos essa dor sem culpa, vai permitir que as nossas lágrimas caiam livremente para limpar toda a mágoa. Ao contrário do ego, que culpa, manipula e recalca, o nosso eu interior permite-nos aceitar a dor, senti-la e libertá-la.

Não é um processo fácil. Hoje tive a prova disso. Hoje fui magoada deliberadamente. Fui julgada, subjugada, menosprezada. O ego tentou levar a melhor e, por escassos segundos, acreditei que não valia nada. Mas depois veio o meu eu verdadeiro, o meu poder pessoal, a minha alma, consolar-me, apoiar-me e fazer-me ver que não era assim, que eu sou uma pessoa capaz, forte, com muitas qualidades e com muito para dar ao mundo. E esse conforto fez-me tão bem. Por breves momentos, senti essa dor que a mágoa deliberada provoca. Sentia-a. E libertei-a. À pessoa que me magoou já perdoei. E perdoar não significa aceitar o que nos fazem mas sim libertar a mágoa que nos provocam.

Tudo isto para vos dizer, em jeito de desabafo, que quando assumimos uma outra forma de encarar a vida, mesmo os momentos menos bons são encarados com mais serenidade e leveza. É algo que vamos aprendendo à medida que a vida nos põe à prova. E todos conseguimos, basta darmos o primeiro passo ao encontro de nós mesmos e do poder infinito que há na nossa alma e no nosso coração.




#

3 comentários:

  1. É uma caminhada que faz falta a toda a gente. Com uma filosofia mais ou menos definida, faz falta a todos nós irmos aprendendo a dominar esse ego e esse superficial por uma aceitação mais completa e uma confiança no que realmente importa.

    ResponderEliminar
  2. É uma aprendizagem constante e é tudo menos fácil.

    ResponderEliminar
  3. Devagar, devagarinho... Quero lá chegar :)

    ResponderEliminar