Fibromialgia | Abraços que doem

[Ilustração de Paul Thurby]

Os abraços não deveriam doer. É contra-natura. Os abraços são refúgio e conforto, amparo e protecção. Sempre gostei de abraços. Sempre os preferi aos beijos rápidos e impessoais. Sempre gostei de abraçar quem quero bem e que bem me quer. Sempre me senti aconchegada e querida nos abraços de quem gosto. Mas hoje os abraços deixaram de ser conforto. Hoje os abraços, até os mais suaves e soltos me doem no corpo. O simples facto de me tocarem nas costas, mesmo ao de leve, me provoca dor. Pode parecer ridículo, difícil até de acreditar, mas é a [minha] realidade. Há dias em que as dores provocadas pela fibromialgia são tantas que nem o mais terno dos abraços consigo suportar. O meu corpo, a minha pele, os meus músculos, tudo se tornou numa ferida gigante que não cicatriza, uma ferida gigante que reage, que dói ao mais pequeno gesto. Nunca pensei que os abraços pudessem doer. No entanto, apesar da dor física que me provocam, não quero abdicar do conforto e da paz que me oferecem. Por isso, apesar da dor, quero continuar a abraçar quem quero bem e quem bem me quer, encontrando nesses abraços a força e a certeza de que haverá dias melhores [com menos dor].