21 março, 2016

"O poeta é um fingidor"


Dizem que é hoje o dia dela, da poesia. Não me lembro ao certo do dia em que me apaixonei por esta arte de dispor palavras e sentimentos. Talvez tenha sido quando ouvia os fados que ecoavam do velho rádio do meu avô. Lá em casa, ouvia-se fado a toda a hora. Foi aí que nasceu a minha paixão por este nosso fado. Foi aí, também, que comecei a prestar atenção aos poemas que faziam o fado. As palavras com vida, as rimas perfeitas, as emoções estranhas que me provocavam no peito. Talvez tenha sido aí que me apaixonei pela poesia. Ou talvez tenha sido quando me deparei com Fernando Pessoa. Foi amor à primeira vista. É o meu poeta de eleição, o melhor de todos, o grande mestre, a grande inspiração, pelo menos para mim. De Pessoa, tenho um carinho especial por Caeiro, o poeta simples da natureza, a eterna e terna criança que se contentava com o ver.

Gosto muito de ler poesia. No entanto, hoje em dia, poucos são os novos poetas que me prendem e me fazem sentir coisas. Nenhum se compara a Pessoa ou a Miguel Torga, de quem também muito gosto. Aprecio também alguns poemas de Sophia e até de Ary, todos da velha guarda. Mas gostava de ler mais poesia contemporânea. Gostava de descobrir novos poetas que me enchessem as medidas e me fizessem suspirar a cada verso.

Também eu, de quando em vez, me atrevo a escrever em poesia o que me vai cá dentro. Já tive melhores dias nesse campo. Agora dedico-me mais à prosa e às tentativas de conto. Talvez, um dia destes, partilhe convosco um poema meu. Talvez. Por ora, deixo-vos um dos meus poemas preferidos de Alberto Caeiro.


"Sou um guardador de rebanhos. 
O rebanho é os meus pensamentos 
E os meus pensamentos são todos sensações. 
Penso com os olhos e com os ouvidos 
E com as mãos e os pés 
E com o nariz e a boca. 

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la 
E comer um fruto é saber-lhe o sentido. 

Por isso quando num dia de calor 
Me sinto triste de gozá-lo tanto. 
E me deito ao comprido na erva, 
E fecho os olhos quentes, 

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, 
Sei a verdade e sou feliz."

[Alberto Caeiro]


9 comentários:

  1. Ai, o que tu foste falar :D Eu adoro Fernando Pessoa, mas o meu heterónimo preferido é Álvaro de Campos, a sua excentricidade agrada-me. Também gosto imenso de Sophia de Mello Breyner, de Miguel Torga infelizmente não conheço muita coisa. Os poemas de Florbela Espanca também são lindíssimos. Felizmente temos um património literário muito rico :)

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    1. Também gosto muito de Florbela Espanca, esqueci-me de referir!

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  2. Este poema é lindo, adoro Pessoa! :D

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    1. Acho que tem tudo a ver contigo este poema, pois também tu és uma menina super simples e doce :)

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  3. Alberto Caeiro, o meu heterónimo favorito ;)

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  4. Eu sou mais chegada à prosa mas há poemas que realmente nos enchem a alma :)

    http://omeumundoaleatorio.blogspot.pt/

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    1. Ultimamente, também leio mais prosa, mas a poesia tem um lugar muito especial no meu coração!

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  5. Um belo exemplar, também gosto imenso deste.

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