14 março, 2016

Confissões

(Foto da minha autoria)

Este é, talvez, um daqueles textos que mais me irá custar escrever. Pensei muito antes de o fazer aqui. Há um tempo atrás, decidi que este espaço seria um espaço povoado, apenas, por energias boas e positivas, e por assuntos sérios também, mas sempre com uma visão leve e optimista. No entanto, há assuntos que, na minha opinião, devem ser falados. Acredito que, ao expormos um problema nosso, actual ou do passado, poderemos ajudar outras pessoas na mesma situação. Encarando as coisas por esse prisma, creio que poderemos ver o seu lado positivo.

Há uns anos atrás, mais concretamente durante o meu tempo de faculdade e uns dois a três anos após ter terminado a licenciatura, comecei a desenvolver compulsões. Hoje percebo que era uma forma de preencher vazios e lacunas. A minha primeira, e pior, compulsão foi o consumismo. Não me lembro agora do nome técnico/clínico que isso tem, mas chamemos-lhes 'consumismo compulsivo'. Basicamente, eu comprava tudo aquilo que via. Mesmo que não precisasse (aliás, quase nunca precisava). Desde roupa, sapatos, malas, porta-moedas, brincos, colares e coisas completamente irrisórias, como caixas ou lápis de cor ou blocos de notas. Quando comecei a trabalhar e a ganhar o meu dinheiro, a coisa agravou-se. Cheguei a uma altura em que não conseguia controlar. Quando estava ansiosa, metia-me num shopping ou numa rua cheia de lojas e ia tudo à frente. Para terem noção, tinha peças de roupa e sapatos que nunca cheguei a usar uma vez que fosse. Foi uma fase muito complicada. Gastei muito dinheiro desnecessariamente, dinheiro esse que poderia ter poupado para viajar, ou para voltar a estudar, ou para outra coisa que fosse efectivamente útil.

Só percebi realmente que não estava bem quando cheguei ao limite, mais precisamente quando os ataques de pânico começaram a ser mais frequentes e as compras deixaram de ajudar e de acalmar. Foi quando pedi ajuda. Fiz terapia. Mudei de vida. Comecei a valorizar o que é verdadeiramente importante. Não foi um caminho fácil. Não é um caminho fácil. Continua a ser uma luta diária, assim como a luta contra a ansiedade. No meu caso, foi a ansiedade descontrolada e o vazio interior que sentia que despoletou o comportamento compulsivo. Comprava coisas para me acalmar e para tentar (em vão) acabar com aquela sensação de vazio insuportável.

Felizmente, agora estou bem. Hoje em dia, tenho uma relação mais saudável com os bens materiais. Claro que há aqueles dias piores, em que fujo das lojas para não cair em tentação. Mas são dias que acontecem com pouquíssima frequência.

Como ontem disse, estou a tentar adoptar um estilo de vida minimalista. A todos os níveis. Estou a destralhar a casa. E a mente também. Este texto é uma fase desse processo. Partilhar isto e deixar ir. Faz parte do passado, por isso, não tem de ficar guardado cá dentro. Além disso, sei que há, certamente, pessoas que já passaram, ou estão a passar, por algo semelhante. O meu conselho é só um: procurem ajuda. Não é vergonha nenhuma. E acreditem que é possível dar a volta por cima. É sempre possível. Basta que a nossa força de vontade seja superior a tudo o resto. Não é fácil, nada fácil. Mas é possível. Se eu consegui, vocês também conseguem.

9 comentários:

  1. Eu sei do que falas, a minha compulsão é outra, por doces. Ainda não estou bem, nem sei se pra lá caminho, estou a ser seguida por uma psicóloga que tem sido incansável e fantástica comigo. Mas depois de tantas sessões, a falar das minhas dores, daquilo que me leva a mergulhar nos doces como se não existisse mais nada que consiga reconfortar-me, percebo que existe tanto pra trabalhar em mim. Tem havido grandes progressos, não só no que respeita à compulsão, mas é como dizes, pra mim é uma luta diária e tem dias que não são mesmo fáceis. Estou numa fase que é dar um passo em frente e dois para trás... Mas não desisto, não posso, não quero.

    beijinho
    www.blogasbolinhasamarelas.blogspot.pt

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    1. Não desistas. O caminho pode ser longo e, por vezes, doloroso, mas vale a pena. Tudo aquilo que nos leva ao encontro de nós mesmos e da nossa felicidade vale a pena! Força**

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  2. Boa! Obrigada pela partilha e parabéns pelo progresso!! Acredito mesmo que não seja fácil... A minha irmã está com um problema semelhante mas com comida... É muito difícil mas mais ainda porque ela não pensa em fazer terapia :/ enfim, um dia será o dia! Obrigada!

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    1. Só quando ela conseguir assumir que tem um problema é que vai ter vontade de pedir ajuda. Mas há-de chegar esse dia, chega sempre, mais cedo ou mais tarde! Eu é que agradeço o carinho :) beijinhos e boa sorte para a tua irmã**

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  3. Assumir os nosso defeitos/problemas em voz alta é das coisas mais complicadas de fazer pelo simples facto de que, ao dizê-lo em voz alta, parece que o problema se torna mais real e depois disso não há volta a ar nem negação que possa existir. Nunca mais. Tu assumiste o teu problema e acho que agora podes estar orgulhosa e em paz contigo mesma. Portanto, e posto isto, acho que este post ainda assim conseguiu manter a leveza e o positivismo que tinhas medo de não conseguir perante este tema :)

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    1. Era essa a mensagem que eu queria passar! Ainda bem que consegui :)

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  4. Eu compenso imenso as minhas frustrações ou stress com comida. Mas não sinto que seja uma compulsão, é bastante controlável...
    Deve ser complicado controlar esses impulsos e fico feliz por estares a recuperar o controlo da tua vida e das tuas vontades!
    nem mais nem menos | Facebook | Instagram

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  5. Felizmente nunca passei por isso e espero nunca passar, mas acho que é de grande coragem aqui partilhares e poderá, sem dúvida, ajudar outras pessoas.

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