01 fevereiro, 2016

Ser como as árvores


Hoje já consegui sair de casa. Ainda não estou bem, de todo. Mas já não tenho febre, finalmente. Fui tomar um chá quentinho ao sítio do costume. E dei por mim a olhar as árvores ao longo do caminho. Despidas. Tão despidas. Prontas para, não tarda, voltarem a encher-se se folhas verdes e flores coloridas. E percebi que nós, humanos, não somos muito diferentes. Também nós, por vezes, precisamos de nos despir. Tirar as roupas velhas e gastas. Despir os sentimentos que já não fazem sentido. Deitar fora as mágoas do que já foi. Libertar as ânsias e os medos, os eternos sentimentos de culpa e as frustrações. Ficar a nu, sem mais nenhum artefacto. Para vestígios do que passou e nos doeu, bastam as cicatrizes. Para vestígios do que foi bom e nos acrescentou, já temos a memória. O resto, portanto, é acessório. Tal como as árvores que, após um ciclo, deixam cair por terra as folhas gastas, também nós, finda uma etapa da nossa vida, devemos libertar-nos da pele que já não nos serve. Tal como as árvores, que ficam apenas adornadas com a simplicidade dos seus ramos nus, também nós devemos mostrar apenas a nossa essência, aquilo que nos define. A seu tempo, outras folhas nascerão. Outras flores ganharão vida, colorindo o nosso corpo, a nossa alma, o nosso mundo. Tal como as árvores, que sabem esperar o tempo certo para florescer novamente, também nós devemos aprender a ter paciência e saber o momento exacto da renovação, do renascimento. A vida é feita de ciclos. Que saibamos acompanhá-los com sabedoria e serenidade. Tal como as árvores.

6 comentários: