Pé descalço

Nunca gostei de andar descalça. Nem quando era criança. Todas as crianças, por norma, gostam de andar descalças. Eu não. Adorava sapatos. Ou pantufas. Ou o que fosse que me tapasse os pés. Nunca gostei de andar descalça. Talvez seja por isso que, desde cedo, a minha mente começou a flutuar numa dança louca entre o passado e o futuro, nunca parando no momento presente. Talvez, por isso mesmo, tenha deixado de me sentir enraizada, tenha perdido o sentimento de pertença.

Ultimamente, nesta minha viagem ao meu interior, tenho aprendido muitas coisas. Uma delas é a importância de andar descalça. Por algum motivo é que na cultura japonesa as pessoas tiram logo os sapatos quando entram em casa e andam descalças. Não se trata só de não poluir o ambiente com os resquícios trazidos da rua. É mais do que isso. Andar descalço permite o enraizamento com o aqui e agora. Ajuda a mente a forcar-se no momento presente. Ajuda a equilibrar as energias e a afugentar ansiedades.

Estou a aprender a andar descalça. Confesso que não é fácil. É estranho. E eu adoro pantufas e chinelos quentinhos. Mas acho importante dar este passo. Andar descalça. Descalçar-me, não só de sapatos e de pantufas e chinelos fofinhos, mas também de tudo aquilo que não faz parte de mim, de tudo aquilo que é acessório, de tudo aquilo que não me faz bem.