02 outubro, 2016

Leituras | O Rouxinol

[Fotografia da minha autoria]

Nem sei bem como começar a falar deste livro. Para princípio de conversa, posso dizer que este livro foi daqueles que me fez chorar muito [e engolir as lágrimas quando estava num local público e não podia desatar a soluçar]. Não é um livro fácil de ler. Fala da segunda guerra mundial. De todos os estragos e danos causados por um monstro [acho que monstro é tratá-lo bem] chamado Hitler e por toda uma cambada de nazis nojentos. Perdoe-me a linguagem, mas não consigo encontrar palavras politicamente correctas. Como estava a dizer, é um livro que relata o período da segunda guerra mundial, mais concretamente em França. Conta a história de duas irmãs, Vianne e Isabelle que, cada uma à sua maneira, sobrevivem e lutam pelos seus ideais.

Vianne, frágil e amedrontada, vê o marido a partir para a guerra, sendo obrigada a albergar dois soldados nazis em sua casa; acaba por matar o primeiro, para proteger a irmã, e é violada pelo segundo, acabando por engravidar. Quando a sua melhor amiga, judia, é levada para os campos de concentração, Vianne adopta o seu filho bebé e ajuda a esconder dezanove crianças judias para que não sejam igualmente deportadas.

Isabelle é destemida e corajosa. Quando a guerra começa, deixa tudo para trás, aliando-se ao movimento França Livre. Juntamente com o pai e os amigos da resistência, cria a rota do Rouxinol, que consiste em ajudar soldados aliados a atravessar os Pirinéus para poderem regressar a casa. No meio da guerra, nasce um amor quase proibido [e condenado à partida] entre Isabelle e Gaetan, que também pertence à resistência.

Com o desenrolar da história, vemos Isabelle levada para os campos de concentração, por ter ajudado o inimigo, onde passa as mais duras provações, saindo de lá, no final da guerra, desfigurada e doente. Vianne vê o seu marido regressar, fugido dos campos de presos de guerra, e constata que a guerra os mudou aos dois, esmorecendo o amor que antes os unia. No entanto, decide reconstruir a sua vida ao lado dele, da filha Sophie e do bebé que vem a caminho.

Este é um livro emotivo. É um livro que retrata o papel e a força das mulheres durante a guerra. Os homens podem ter combatido nas frentes de batalha, mas coube às mulheres o trabalho mais duro: esperar, passar fome, frio, conviver com nazis dentro de casa, serem violadas e espancadas, criarem os filhos, ajudarem a esconder crianças e amigos judeus ou soldados aliados. As mulheres foram, desde sempre, o alicerce, a terra firme que até pode abalar mas que se mantém. As mulheres foram, desde sempre, a coragem do coração, agindo por impulso, protegendo e cuidando os mais fracos, não se vergando perante as injustiças. As mulheres foram, desde sempre, resilientes, resistentes, sobreviventes. E este livro é uma prova disso. É um hino às mulheres da guerra, que foram determinantes para o desenrolar dos acontecimentos.

Acho que todos deveriam ler este livro. A história não acaba da melhor forma. Tem um desfecho triste. Prova-nos que há amores que, por mais fortes que sejam, não conseguem sobreviver às maleitas causadas pelos maus tratos de uma guerra tão sangrenta, que há amores que duram apenas o tempo que o corpo e a vida permitem, que ficam pela promessa do que poderia ter sido. E isso faz chorar. Assim como faz chorar de desespero e raiva saber de todas as atrocidades que foram cometidas nesta guerra. No entanto, apesar de tudo isto, vale tanto, tanto a pena ler este livro. Se tiverem possibilidade, não deixem de o ler. Não se irão arrepender, acreditem. E para finalizar, deixo-vos com um excerto que resume na perfeição tudo aquilo que eu disse:

"Os homens contam histórias. As mulheres seguem em frente. Para nós, foi uma guerra vivida nas sombras. Quando acabou, não tivemos direito a paradas, a medalhas ou a referências nos livros de História. Fizemos o que tínhamos de fazer durante a guerra, e quando ela acabou, apanhámos os cacos e refizemos as nossas vidas."

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