16 setembro, 2016

Há Amores Assim | A Carta


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Meu amor de algum dia, não me prendas, não me julgues. Não me perguntes o que não sei responder. Limita-te e ler-me nos olhos, na pele e na alma. Por certo encontrarás sossego para as tuas inquietações. Não tentes focar a minha atenção num só dia. Preciso de tempo, de habituação. Cresci na espera, nem sempre doce, de um amanhã melhor. Aprendi a conjugar-me devagar, entre ritmos, poemas e compassos. Não me peças que mude de sítio ou que corte rente as minhas raízes. Já andei por esse mundo sozinha, em comboios vazios, perdida nos ares de outras gentes. Penei para regressar ao conforto e não tenho vergonha de assumir este amor pelo que é meu desde nascença. Não me peças que pare de sonhar. Se tal me pedires, despede-te de mim, pois nesse exacto momento morrerei. Da mesma forma que não me peças para não me perder durante horas sem termo nos meus versos e poemas, nas minhas palavras e nas palavras dos outros. Se tal me pedires, não serei mais por inteiro, não saberei mais dar-te amor. Meu amor de algum dia, não me iludas nem me magoes. Não querias fazer de mim o que eu não sou. Não me peças para deixar de lado as flores e a minha excentricidade no andar e no escrever. Não me peças para ser mais aventureira ou mais forte. A força que em mim há não se vê a olho nu, está escondida, engarrafada num frasquinho de cristal que só se quebra em caso de emergência. Não me peças para apagar as marcas que trago na alma. São elas que me definem, que me contam e narram. Se quiseres aprender sobre mim, aprende a ler essas marcas, não tenhas medo de tocar nas cicatrizes nem de redesenhar as tatuagens. Meu amor, meu querido amor de algum dia. Se vieres, vem por bem. Se ficares, dá-me sossego. Serena o meu ser e aceita-me como sou. Aprende a conviver com o meu feitio estranho, aprende a escutar os meus silêncios, aprende a desfrutar das minhas palavras. Não queiras que eu tenha horários para tudo e dias para cada coisa. Vivo de acordo com a maré das emoções. Faço dos dias noite e da noite dias inteiros. Senta-te ao meu lado, dá-me a mão e desfruta do momento. Sem importar se estamos na Primavera ou já no Outono. Olha para mim e não digas nada. Dá-me, apenas, a melodia do teu coração, a verdade dos teus gestos, a segurança do teu abraço, a liberdade do teu amor. Meu amor, meu querido amor de algum dia. Não tenhas pressa. Mas não te demores.

5 comentários:

  1. Que carta linda, Catarina! Tão "de dentro" :)

    Jiji

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  2. Ler coisas destas pela manhã sabe tão bem! Mas que texto lindo Catarina! :')

    A Vida de Lyne

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  3. Oh Catarina, tu és tão bonita.
    Que palavras lindas! Deixas-me sem palavras e com o coração cheio de luz.

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  4. Que lindo Catarina :)
    Espero que encontres alguém assim, que te faça tão feliz como tanto mereces*

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