29 setembro, 2015

Olhar para dentro


Olhar para dentro. Não é fácil. Dói. Talvez, por isso, passamos a maior parte do tempo e da vida a não olhar para dentro de nós. Porque é mais fácil não o fazer. Custa menos, bem menos, olhar em redor, olhar os outros, olhar até para dentro dos outros. Custa menos fazer de conta que está tudo bem connosco, que o melhor é mesmo seguir em frente, enquanto vamos acumulando e recalcando uma série de lixo emocional. E assim vamos escapando, por entre a chuva, levando uma vida ligeiramente confortável e perfeita aos olhos dos outros. E assim vamos camuflando o sofrimento, dizendo que está tudo bem, que está sempre tudo bem ou, se não está, há-de ficar, tem que ficar. Até ao dia. Até ao dia em que não é mais possível olhar só para fora. Até ao dia em que somos mesmo obrigados a olhar para dentro. E é aí que tudo começa. O confronto com o que lá está. A negação. A raiva. A culpa. A mágoa. Olhar para dentro exige força e determinação pois, uma vez que se inicia essa viagem, não há retorno, nada voltará a ser igual. Olhar para dentro exige paciência, tolerância e demora. Exige aceitação. Olhar para dentro implica aceitar o que lá está. Os velhos sonhos, as velhas mágoas, todos os recalcamentos, tudo aquilo que ficou tanto tempo guardado. Olhar para dentro exige que não mais tenhamos medo dos fantasmas, que os consigamos enfrentar e vencer de vez. Olhar para dentro faz sofrer. Faz questionar. Faz colocar tudo em causa. Tudo, até as mais pequenas coisas. Mas, cada vez mais me convenço de que, apesar de tudo, olhar para dentro de nós é fundamental, é essencial para podermos evoluir, para nos reencontramos, para encontrar o nosso caminho, o nosso verdadeiro caminho.

7 comentários:

  1. Adorei o texto!
    Se quiseres passa pelo meu blog, também escrevo
    www.dontcreatelimitations.blogspot.pt
    xii coração
    Catarina'Azevedo

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  2. Temos que saber olhar para nos e aceitar o que vemos :)

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  3. Olhar para dentro desperta-nos a autocrítica e poderemos querer exigir o impossível.Sejamos brandos connosco, pois ninguém é perfeito nem tão pouco existem vidas perfeitas. Contudo, a reflexão sobre o que fazemos e o que queremos é indispensável para podermos ser cidadãos conscientes e sensíveis com todas as nossas virtudes e defeitos.

    É a minha opinião :)

    Um abracinho,
    mz

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  4. É sem dúvida essencial... E temos mesmo de o fazer que só nos faz bem !

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  5. Sem dúvida, custa mas é a forma mais honesta de vermos o que lá está.

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  6. Acho que tens toda a razão! Acredito que quando fazemos essa tarefa, percebemos coisas sobre nós que sempre lá estiveram mas sobre as quais nunca pensámos muito e que, no fim de contas, são as que mais dizem sobre nós.

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