19 julho, 2016

Saudade [boa]

[Ilustração de Kinchoi Lam]

Há dias em que me sinto mais saudosa. Mas não é uma saudade triste, é uma saudade serena e apaziguada, uma saudade que não provoca dor nem angústia. Tenho muita saudade da minha meninice. Tenho dado por mim a relembrar os tempos da escola primária, dos meus amigos de então, das nossas brincadeiras e de como o mundo era um lugar especial. Dou por mim a sentir saudade das minhas gargalhadas, gargalhadas essas que toda a gente reconhecia ao longe. Era uma criança alegre, menos tímida o que aquilo que sou hoje. Sinto saudade da liberdade de poder correr pelas ruas sem medo, sentir o vento a enrolar os cabelos e comer doces sem me preocupar com as dores de barriga. Que saudades de ouvir o meu avô contar-me histórias de antigamente e de colhermos flores dos canteiros para oferecer à avó. Que saudade do cheirinho do bolo de iogurte que a minha mãe fazia ao Sábado à tarde e das brincadeiras com as melhores primas do mundo. Sinto uma saudade gigante desse tempo, uma saudade imensa e feliz. Quando todas essas recordações assaltam as minhas noites de insónia e os meus dias de cansaço, logo fico com um sorriso no rosto e com o coração aos saltos. É uma saudade boa, é a certeza de que tudo aconteceu como deveria ter acontecido e de que fui deveras feliz mesmo sem ter a noção disso.

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