09 fevereiro, 2016

"Depus a máscara e vi-me ao espelho."


"Depus a máscara e vi-me ao espelho. —
Era a criança de há quantos anos.
Não tinha mudado nada...
É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado que foi
A criança.
Depus a máscara e tornei a pô-la.
Assim é melhor,
Assim sou a máscara.
E volto à personalidade como a um terminus de linha."

(Álvaro de Campos)

Este é um dos meus poemas preferidos do heterónimo Álvaro de Campos. Ainda me lembro da primeira vez que o ouvi. Foi a minha professora de Filosofia que o declamou. E eu adorei. Inclusive, até escrevi uma reflexão sobre ele na altura. Deveria ter uns 15 ou 16 anos. É das melhores memórias que tenho dessa altura. As aulas de Filosofia e de Português. Os poemas de Pessoa. E pouco mais me dava alento naquela altura, naquele lugar. Adiante. Este é um dos meus poemas preferidos. Porque descreve o nosso modo de vida. As máscaras que vamos criando e com as quais nos vamos enfeitando ou escondendo à medida que crescemos. Muitas das vezes, são essas máscaras que nos protegem das agressões de um mundo que não está em sintonia com o que nos vai na alma. Outras tantas, são essas mesmas máscaras que nos tornam disformes e cada vez mais afastados de nós mesmos. Assim como assim, prefiro andar sem  máscara. Já me refugiei atrás de uma (ou de várias) durante tempo demais. Agora não quero saber de máscaras, nem de artefactos, nem de tudo aquilo que me afaste de mim. Não gosto de máscaras. Mas continuo a gostar deste poema.

6 comentários:

  1. Eu nunca gostei muito de filosofia mas isso também se devia ao stor que tinha...
    Quanto o poema, tens toda a razão nós temos a tendência a escondermos por trás de mascaras porque achamos que assim ficamos protegidos mas o melhor mesmo é tirarmos essas mascaras e enfrentarmos o mundo :)

    Beijinhos*

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  2. Gosto imenso de Pessoa, mas não conhecia este poema. Eu adoro o da ilha "Não sei se é sonho se realidade" *-*

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  3. Gosto muito desse poema. Também sou assim. Não gosto de máscaras, nem de quem se esconde atrás delas. O melhor é mesmo lutar por aquilo que queremos, com coragem e sem máscaras :)
    Beijinhos

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  4. Não conhecia este poema, mas achei-o tão ajustado a mim...
    Segundo o meu terapeuta eu não uso uma máscara, mas sim uma carapaça. Mas a finalidade é a mesma. Proteger-me, criando uma personagem que não corresponde à realidade e não me deixando VIVER em pleno!

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  5. Concordo contigo, é um bonito poema e sem dúvida que vai ao encontro da realidade de cada um.

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