Ainda há homens gentis (por incrível que pareça)

[Ilustração de Madalina Andronic]

Sou daquelas pessoas que anda com meia casa às costas. Ando sempre carregada com mil sacos - é a carteira normal, é a lancheira, é o saco com a bata, é a pasta com livros e documentos - e, em dias como os de hoje, o belo do guarda-chuva. Para conseguir carregar aquilo tudo, pior em dias de chuva, é um autêntico filme. Hoje estava eu, à entrada de um edifício público, a debater-me para conseguir fechar o guarda-chuva, a tentar equilibrar os sacos que já estavam a escorregar por todo o lado, a tentar tirar o cabelo da frente dos olhos e a barafustar mentalmente por estar com a meia-calça toda molhada (uma linda cena, como podem imaginar!) e eis que reparo que está um gentil rapaz há não sei quanto tempo a segurar a porta para eu passar. O meu primeiro pensamento foi 'que vergonha, que figuras tristes que eu faço!'. Depois, lá entrei e agradeci ao gentil rapaz, que me sorriu e desejou uma boa tarde. Por momentos, fiquei com uma réstia de esperança neste género masculino em vias de extinção.